quinta-feira, 13 de setembro de 2012

...

Este texto, um testemunho sincero, foi escrito e partilhado no facebook, por uma amiga, professora de Geografia. 
E mais do que isto não sei dizer... 


Rosa chega tarde à reunião. Os restantes Encarregados de Educação já estão de saída. Afinal, há jogo da seleção não tarda muito. Pede desculpa. Tem um neto noutra turma. Teve de ir. A filha está emigrada e deixou o neto a seu cargo.
As mãos cheiram a lixívia. Foi para tirar o cheiro dos bichos.

O filho, que ainda não conheço, é um dos melhores alunos da turma. Nunca reprovou. Nunca teve uma negativa. Tem catorze anos. Quer ser engenheiro.

Rosa, sessenta anos, pede ajuda nos papéis. Tem a quarta classe da escola de adultos.
É mãe de oito nascidos e sete criados. Trabalhadora fabril desde os catorze anos até há uns meses… está desempregada. O marido também. A fábrica fechou. Trabalhou lá perto de quarenta anos.

O filho, é um dos melhores alunos da turma, nunca recebeu uma queixa. Não tem direito ao subsídio escolar. Não tem livros.
Ou o leite ou os livros. Ou o pão ou os livros. Os medicamentos ou os livros. Os livros perderam…

O filho, é um dos melhores alunos da turma, depois de algumas lágrimas escondidas, está conformado. Fará como puder.

Usados, emprestados prometo-lhe que os vou arranjar.
Rosa, mulher de fé, agradece a Deus.

Para o ano, o filho, que é um dos melhores alunos da turma, não irá para a escola secundária. É longe. Não há dinheiro para o passe.

Que país é este em que nos tornamos?

3 comentários:

sara disse...

:( é mesmo verdade...infelizmente o nosso país não consegue proporcionar o devido acesso à educação a pessoas como estas!!!

Lady disse...

É daquelas situações que todos já vimos de perto enquanto profs e DTs! Mas há situações piores... Imagina juntares a esse cenário, o vício do álcool...logo, não há dinheiro para livros, nem para pão, nem para leite... só vinho! E pagam todos e ninguém tem culpa :P

sara disse...

Fogo Lady, MUITO mau!