terça-feira, 24 de junho de 2014

A Princesa e a Ervilha

Ofereceram-me este pequeno livro, o conto "A Princesa e a Ervilha", de Hans Christian Andersen, quando eu tinha oito anos. Tornou-se o meu favorito, talvez pelas ilustrações e também, claro, pela história. Perdi-lhe o rasto há muitos, muitos anos. Estava tão velhinho e riscado, que, de certeza foi parar ao lixo, durante as mudanças, na casa dos meus avós. Encontrei-o à venda no OLX e deu-me um aperto de saudade daquele livro que me fazia sonhar com princesas sensíveis e rainhas astutas.
Para mim, enquanto menina, as princesas eram todas assim. Delicadas por fora. Amáveis, gentis... Hoje sei que todas as "princesas-mulheres" têm mais é que ganhar defesas. Serem sensíveis, sim, mas, igualmente, munidas de um bom conhecimento nas artes de auto-defesa e ataque... Um pé à frente e o outro atrás... Continuo a acreditar no Bem e na importância que este tem na vida do próprio, quando o sabe aplicar em si e no outro. No entanto, nos dias que correm, é cada vez menor o número de pessoas em quem nos podemos "entregar" por completo... E, claro, "princesas-mulheres" verdadeiras há mesmo muito, muito poucas...


"Era uma vez um príncipe que queria casar com uma princesa — mas tinha de ser uma princesa verdadeira. Por isso, foi viajar pelo mundo fora para encontrar uma, mas havia sempre qualquer coisa que não estava certa. Viu muitas princesas, mas nunca tinha a certeza de serem genuínas havia sempre qualquer coisa, isto ou aquilo, que não parecia estar como devia ser. Por fim, regressou a casa, muito abatido, porque queria uma princesa verdadeira.
Uma noite houve uma terrível tempestade; os trovões ribombavam, os raios rasgavam o céu e a chuva caía em torrentes — era apavorante. No meio disso tudo, alguém bateu à porta e o velho rei foi abrir.

— Bem, já vamos ver isso — pensou a velha rainha. Não disse uma palavra, mas foi ao quarto de hóspedes, desmanchou a cama toda e pôs uma pequena ervilha no colchão. Depois empilhou mais vinte colchões e vinte cobertores por cima. A princesa iria dormir nessa cama.
De manhã, perguntaram-lhe se tinha dormido bem.
— Oh, pessimamente! Não preguei olho em toda a noite! Só Deus sabe o que havia na cama, mas senti uma coisa dura que me encheu de nódoas negras. Foi horrível.
Então ficaram com a certeza de terem encontrado uma princesa verdadeira, pois ela tinha sentido a ervilha através de vinte edredões e vinte colchões. Só uma princesa verdadeira podia ser tão sensível.
Então, o príncipe casou com ela; não precisava de procurar mais. A ervilha foi para o museu; podem ir lá vê-la, se é que ninguém a tirou."

quarta-feira, 26 de março de 2014

Eu já...

mantive o silêncio quando deveria ter gritado; gritei quando deveria ter mantido o silêncio; chorei muito no consultório clínico; chorei muito ao volante; perdoei; senti inveja; me senti invisível; desejei não ser eu; não atendi o telemóvel de propósito; fui muito feliz em sítios diferentes; senti que nunca mais seria feliz; sonhei estar grávida; sonhei com o meu funeral; implorei baixinho por uma sms; adormeci a chorar; recebi e dei abraços sinceros; ri muito com as amigas; dormi ao ar livre; senti o coração parar; perdi o trabalho de casa de um aluno; roubei cigarros; desenhei bigodes em fotos; urinei numa piscina; comi por gula; fui insultada; fui elogiada; acusei outros injustamente; fui acusada injustamente; fingi estar doente; fingi não estar doente; menti descaradamente, acreditei piamente; rezei muito; me zanguei com Deus; perdi a fé; retomei a fé; ansiei pelo futuro; temi o futuro... Eu já, eu já...

quarta-feira, 19 de março de 2014

A subfelicidade

"O que mais dói não é – desengana-te – a infelicidade. A infelicidade dói. Magoa. Martiriza. É intensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar. Mas a infelicidade não é o que mais dói. A infelicidade é infeliz – mas não é o que mais dói.
O que mais dói é a subfelicidade. A felicidade mais ou menos, a felicidade que não se faz felicidade, que fica sempre a meio de se ser. A quase felicidade. A subfelicidade não magoa – vai magoando; a subfelicidade não martiriza – vai martirizando. Não é intensa – mas é imensa; faz gritar, sofrer, saltar, chorar – mas em silêncio, em surdina, em anonimato. Como se não fosse. Mas é: a subfelicidade é. A subfelicidade faz-te ficar refém do que tens – mas nem assim te impede de te sentires apeado do que não tens e gostarias de ter. Do que está ali, sempre ali, sempre à mão de semear – e que, mesmo assim, nunca consegues tocar. A subfelicidade é o piso -1 da felicidade. E não há elevador algum que te leve a subir de piso. Tens de ser tu a pegar nas tuas perninhas e a subir as escadas. Anda daí.
Sair da subfelicidade é um drama. Um pesadelo. Sair da subfelicidade é mais difícil do que sair da infelicidade. Para sair da infelicidade, toda a gente sabe – tu mesmo o sabes: tens de tomar medidas drásticas. Medidas radicais. Porque a infelicidade é, também ela, radical. Mas sair da subfelicidade é uma batalha interior muito mais dolorosa. Desde logo, porque não sabes se queres, mesmo, sair da subfelicidade. Porque é na subfelicidade que consegues ter a certeza de que evitas a desilusão – terás, no máximo, a subdesilusão; porque é na subfelicidade que consegues ter a certeza de que evitas a perda – terás, no máximo, a subperda. Estás a ficar perdido com o que te digo?
A subfelicidade é o produto mais diabólico que a humanidade criou. Formatado pela consciência, o homem assimilou um conceito que, na verdade, não existe: o da felicidade segura. Espero que estejas bem seguro nessa cadeira quando leres o que aí vem no próximo parágrafo.
A felicidade segura não existe. A felicidade segura é segura, sim – mas não é felicidade. A felicidade pacífica é pacífica, sim – mas não é felicidade. A felicidade, quando é felicidade, assolapa, euforiza, arrebata. E não deixa respirar, e não deixa sequer pensar. A felicidade, quando é felicidade, é só felicidade. E tudo o que existe, quando existe felicidade, é a felicidade. Só ela e tu. Ela em ti. Ela em todo o tu. A felicidade, para ser felicidade, não tem estratos, não tem razão. Ou é ou não é. A felicidade é animal, de facto – mas é ainda mais demencial. Deixa-te louco de felicidade, maluco de alegria, passado dos cornos. Só quando estás dentro da felicidade é que estás fora de ti. Liberto do corpo, da matéria, da sensação – e imerso naquela indizível comunhão. Tu e a felicidade. Já a sentiste, não?
Não há como dizer de outra maneira: se estás acomodado à subfelicidade, se tens medo de ser feliz e preferes a certeza de seres subfeliz: és um triste de todo o tamanho. A subfelicidade é uma tristeza. Uma tristeza de hábitos, de rotinas, de sorrisos – uma tristeza que inibe a surpresa, o imprevisível, a gargalhada. Uma tristeza que te faz refém do que fazes e te impede de te seres o que és. Olha em redor: a toda a volta há pessoas subfelizes, pessoas que dizem “vai-se andando”, pessoas que dizem “tem de ser”, pessoas que dizem “eu até gosto dele”, pessoas que dizem “sou feliz” com os olhos cheios de “queria ser feliz”, pessoas que dizem “é a vida”. Mas não é. A vida não é a quase felicidade. A vida não é a subfelicidade. E, se é a primeira vez que vês isso, fica entendido o que sentes. Ou subentendido, pelo menos."
Pedro Chagas Freitas

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Maggie e Ninja

Estas meninas vieram de mansinho e estão para ficar... Maggie, lady badocha, é a mãe. Mia imenso por comida e mimos. Muitos mimos. Ninja - nome dado quando pensei que era gato - é extremamente assustadiça. Ainda não consegui pegar nela mais de um minuto. É uma palerminha linda. Maggie passa mais tempo no alpendre. Dorme, pede festas, mia, dá a sua volta e regressa. Acho curioso que fique à minha espera, no portão, quando saio à noite. Ninja, a teen, está horas sem aparecer...
Tenho muita pena não as adoptar oficialmente, mas tenho carinho, uma manta e comidinha para lhes dar. 
Espero bem que o Rex, lá do Céu Canino, não ache que me virei para o lado do inimigo, mas a verdade é que gosto cada vez mais destas duas tolitas. 
Ninja
Maggie

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

2013

O que dizer de 2013? Eu sei que o ano ainda não terminou, mas sinto-o quase a dizer-nos adeus. 
Nunca imaginei que fosse um ano de mudanças, de desgostos, mas também de alegrias e momentos únicos. Sinto que não sou a mesma depois deste ano. 2013 marcou-me. Muito. 
Quero que 2014 seja um ano bom, para mim e todos, sem excepção. Que não nos falte saúde e tranquilidade. Que sejamos felizes, com muito ou com pouco...

Mas enquanto o ano não termina... um doce e feliz Natal a todos *


domingo, 17 de novembro de 2013

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

...

"Esquecer uma mulher inteligente custa um número incalculável de mulheres estúpidas." António Lobo Antunes.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Amor-próprio

Por muito que nos magoem, por muito que não entendamos o porquê de tanta coisa, sei que o importante é manter a cabeça e o coração limpos. Hoje acordei cansada de mim própria e tive que me dar um abanão.