sexta-feira, 18 de julho de 2008

Gente de sexta-feira

Sexta-feira, 19h30. O comboio chega, finalmente, a S. Bento. Dezenas de pessoas empurram-se até às portas, lutando pela saída, enquanto que outras dezenas fervem nervosas, lutando pela entrada.
Junto-me à multidão. Sou mais uma sardinha naquela lata. De repente, ao meu lado surge a jovem cega, que eu vira meses atrás. Desta vez, o companheiro, igualmente cego, não está. Pergunto-me se eles continuam juntos e felizes. Tomara que sim.
Primeiro hesito, mas depois não resisto e pergunto-lhe se quer ajuda na saída. Ela sorri e agradece."As sextas-feiras são um martírio", responde-me em jeito de desabafo. "Acompanhe-me só até à porta da estação, não se importa? Depois tenho quem me vá buscar".
Já de braço dado, vamos sendo arrastadas pela multidão. Entre apertos e atropelos lá conseguimos chegar à porta principal, junto às cabines telefónicas.
"Já estou habituada. Eu vejo bem esta gente. Eles é que não me vêem. É gente de sexta-feira..."
Despeço-me dela. Assegurou-me que o marido não tardava a aparecer. Fico a pensar, porque também eu sou aquela gente. Sou exactamente assim à sexta-feira.

2 comentários:

Lady disse...

Gostei mt deste texto... Uma crónica digna de um JN ou de algo melhor... Keep going girl...

sara disse...

Muito bem Su!!!Realmente há coisas que acabam por nos passar completamente ao lado...bjinhos*