Sexta-feira, 19h30. O comboio chega, finalmente, a S. Bento. Dezenas de pessoas empurram-se até às portas, lutando pela saída, enquanto que outras dezenas fervem nervosas, lutando pela entrada.
Junto-me à multidão. Sou mais uma sardinha naquela lata. De repente, ao meu lado surge a jovem cega, que eu vira meses atrás. Desta vez, o companheiro, igualmente cego, não está. Pergunto-me se eles continuam juntos e felizes. Tomara que sim.
Primeiro hesito, mas depois não resisto e pergunto-lhe se quer ajuda na saída. Ela sorri e agradece."As sextas-feiras são um martírio", responde-me em jeito de desabafo. "Acompanhe-me só até à porta da estação, não se importa? Depois tenho quem me vá buscar".
Já de braço dado, vamos sendo arrastadas pela multidão. Entre apertos e atropelos lá conseguimos chegar à porta principal, junto às cabines telefónicas.
"Já estou habituada. Eu vejo bem esta gente. Eles é que não me vêem. É gente de sexta-feira..."
Despeço-me dela. Assegurou-me que o marido não tardava a aparecer. Fico a pensar, porque também eu sou aquela gente. Sou exactamente assim à sexta-feira.
2 comentários:
Gostei mt deste texto... Uma crónica digna de um JN ou de algo melhor... Keep going girl...
Muito bem Su!!!Realmente há coisas que acabam por nos passar completamente ao lado...bjinhos*
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